Por Mauro Roberto Schlüter ***
Há muito se fala em apagão logístico, mas nada havia sido constatado até hoje a não ser pequenos sinais pontuais de fadiga de certas infraestruturas, notadamente de terminais portuários e ainda assim ocasionadas nos picos de safra.
Sempre que se fala sobre o apagão logístico, via de regra se associa a ausência ou precariedade da nossa infraestrutura. Pois bem, os sinais estão vindo de um setor que até então não havia sido inserido no contexto: o da falta de veículos para transportar a carga.
Na semana retrasada estava dando aulas no curso de pós-graduação de logística da PUC de Campinas e como de praxe pergunto aos alunos (grande parte deles gerentes de logística do setor industrial e gerentes de empresas de logística e transporte de cargas), sobre as condições de negocio e operação do mercado.
Para minha surpresa, todos comentaram sobre a falta de veículos para transportar as cargas no final do mês.
Um deles informou que três filiais suas pararam completamente por dois dias, pois não conseguiam embarcar os produtos por falta de veículos no mercado de caminhoneiros autônomos. Este fato não me causou surpresa, pelo contrário.
Tenho pesquisado há muito tempo sobre a evolução da matriz modal do país e as conclusões que chego apontam para este tipo de problema.
Há muito tempo escrevi sobre a perspectiva de encolhimento drástico na quantidade de caminhoneiros autônomos e que isto repercutiria de forma dramática na logística do país, como está começando a acontecer.
As empresas de transporte rodoviário de cargas possuem a sua frota própria e a de agregados para transportar as cargas oriundas do seu negócio e nos períodos de pico de demanda, a frota é reforçada através da contratação de caminhoneiros autônomos. Pois é esta frota “flutuante” que está escasseando e o resultado é conhecido: apagão logístico.
Embora isto tenha ocorrido de forma pontual (final de mês), existe a possibilidade concreta de que seja algo constante a partir de agora.
O problema é potencializado pela falta de infraestrutura de depósito das transportadoras. Como os armazéns são construídos apenas para prover operações de transbordo, a função desses locais é de giro rápido de produtos.
Quando o giro não acontece, o armazém fica abarrotado de produtos muito rapidamente, levando a situações de risco como por exemplo, deixar produtos ao relento e coberto por lonas, sem contar o caos que é criado.
Quem diria. O apagão logístico está ocorrendo no âmbito privado e não só no setor público como todos achavam. Embora a categoria de caminhoneiros autônomos (de longo curso), esteja diminuindo e potencializando o problema, é possível postergar estes apagões logísticos de final de mês.
Já mencionei em editorial aqui na Newslog sobre os problemas que as metas de vendas e de faturamento adotados por boa parte das industrias, ocasionam na logística.
A demanda por serviços de transporte nos finais de meses tem pouco a ver com o recebimento de massa salarial pelos consumidores finais e muito mais a ver com as metas de faturamento das industrias. Acabar com as metas em finais de meses e transpô-las para o meio do mês é uma decisão que qualquer industria pode tomar.
Outra decisão que poderia ser tomada, nesse caso pelas transportadoras, é a inclusão de uma taxa adicional nos períodos que antecedem o fim do mês ou então um desconto para transportar os produtos no meio do mês (ou então ambas).
Cabe salientar também, que o salário básico de motorista está defasado da realidade, dissuadindo a entrada de novos profissionais neste mercado. Não faltam caminhões, faltam motoristas.
O apagão logístico que acontece agora, pode ser remediado e para isso basta um pouco de bom senso por parte das industrias e transportadores.
Por:
Mauro Roberto Schlüter
IPELOG
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Fonte: www.intelog.net
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