sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Infraestrutura e competitividade no mercado mundial

Por Paulo Resende - O Estado de S.Paulo

A posição brasileira em infraestrutura no Ranking de Competitividade Mundial não é boa. E, não é pela ausência de grandes projetos, modernos sistemas e eficiência operacional que o País fica abaixo de nações como África do Sul, Argentina e Chile, mas, sobretudo, pela desigualdade das condições de infraestrutura entre as macrorregiões.

Enquanto São Paulo possui uma malha rodoviária por vezes superior à de alguns países europeus, o Estado do Maranhão é servido por um sistema rodoviário que se iguala em nível de serviço à Moçambique, resultando num sistema altamente precário.

Na área de transmissão de dados, por exemplo, enquanto Minas Gerais avança rapidamente na oferta de sistemas de fibra óptica, Mato Grosso não acompanha o ritmo.

Cada área da infraestrutura marcada pela desigualdade operacional contribui para a queda da competitividade brasileira. Dessa forma, o desafio definitivo passa a ser a necessidade de projetos estruturantes com características inter-regionais.

Esse desafio evoca premissas de planejamento integrado e de longo prazo que contemplem a construção de corredores, de matrizes de origem-destino de alto valor adicionado nas cadeias de suprimento e de uma matriz energética capaz de explorar os potenciais microrregionais, com consequentes sinergias de grande magnitude.

Nesse contexto, não é mais o caso de se argumentar que o Brasil precisa de maiores investimentos, mas sim priorizar projetos que reduzam de forma mais rápida a diferença negativa que afeta a competitividade. Para isso, é fundamental afastar os interesses setoriais e iniciar um movimento de garantias de ganhos de eficiência no menor prazo possível.

É preciso aumentar para 30%, dos atuais 15%, o volume de estradas pavimentadas; reduzir em pelo menos 40% o custo de movimentação de contêineres nos portos de Santos, Paranaguá, Vitória e Rio Grande; aumentar a oferta de fibras ópticas nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte; triplicar a oferta de linhas de metrô nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte; implementar um sistema portuário conectado para atender à demanda reprimida de cabotagem; passar dos atuais 24% de participação ferroviária para 33% na matriz de transportes; dobrar a capacidade dos terminais e pistas aeroportuárias; e, finalmente, atingir 25 mil quilômetros de rodovias concedidas contra os atuais 14 mil km.

No âmbito do planejamento e da gestão, torna-se imprescindível a retomada da ideia de uma agência multiministerial para cuidar da continuidade dos projetos estruturantes no longo prazo; da consolidação de modelos de parceria público-privadas que reduzam a distância entre as empresas e a agenda governamental; e, sobretudo, de uma política integrada e viável entre o desenvolvimento e a preservação do meio ambiente.

É COORDENADOR DE INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA DA FUNDAÇÃO DOM CABRAL

Fonte: O Estado de São Paulo

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